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SÉRIE "BROMELÍGENAS": O ÚNICO DO GÊNERO

Quem são os Dendropsophus?


Os anfíbios do gênero Dendropsophus pertencem ao grupo das pererecas e possuem 109 espécies distribuídas do México à Argentina. As espécies possuem características muito similares, dificultando assim a identificação de cada uma. Além disso, é comum neste grupo a colocação de ovos e desenvolvimento dos girinos em lagoas ou brejos, por serem áreas com água temporária ou com pouco movimento.

Fotografias de Rodrigo B. Ferreira


Entretanto, foi descoberta uma espécie que foge do padrão de todas as outras conhecidas deste gênero, tornando-se a primeira espécie a ter um ambiente de reprodução diferente!


Dendropsophus bromeliaceus


Em uma pesquisa na Reserva Biológica Augusto Ruschi, Santa Teresa, Espírito Santo, foi observada uma distinta perereca pulando em bromélias aderidas a troncos de árvores. Análises acústicas, morfológicas e genéticas revelaram tratar-se de uma nova espécie. O Dendropsophus bromeliaceus, conhecido popularmente como pererequinha-de-bromélia-teresense, veio a se tornar a primeira espécie bromelígena do gênero Dendropsophus. Ou seja, todo o desenvolvimento do ciclo de vida ocorre exclusivamente dentro de bromélias.

Dendropsophus bromeliaceus em bromélia - Fotografia de Rodrigo B. Ferreira


O nome científico “bromeliaceus” é justificado por este novo hábito reprodutivo e o sufixo “aceus” significa, em latim, “pertencente a”, sendo assim “pertencente à bromélia”. Já o nome popular “teresense”, se refere aos moradores de Santa Teresa, uma vez que a espécie foi descoberta nesta localidade.


História Natural


A pererequinha-de-bromélia-teresense foi encontrada em afloramento rochoso com árvores distantes uma das outras e bromélias ocupando grande parte dos galhos dessas árvores, no chão também pode ser observada uma grande presença de bromélias e de vegetação de pequeno ou médio porte. A espécie é noturna, isto é, suas atividades, como reprodução e canto, ocorrem à noite.


Os machos cantam tanto na estação chuvosa quanto na seca, mas girinos e juvenis foram encontrados em período de chuva. Os indivíduos que cantavam e os girinos encontrados estavam em bromélias no chão ou até 5 metros acima do solo. Os adultos D. bromeliaceus não foram registrados compartilhando a bromélia em que habitavam com indivíduos da mesma espécie. Dessa forma, é possível sugerir que os machos são territoriais, defendendo as bromélias e os filhotes de rivais e predadores.

Dendropsophus bromeliaceus escondido em bromélia - Fotografia de Rodrigo B. Ferreira


Apesar de ter utilizado variados tipos de bromélias, D. bromeliaceus procura não se dispersar em muitas espécies da planta. Principalmente se possuírem um tanque central reduzido ou não conseguirem acumular água da chuva o suficiente. Além de ocuparem a parte mediana da planta, evitando os tanques centrais e as axilas mais próximas ao solo, devido ao risco de dessecação, predação ou perturbação. A baixa quantidade de girinos por plantas (um ou dois) pode indicar que a espécie deposita poucos ovos ou que os girinos são canibais.


Características Morfológicas


O D. bromeliaceus possui tamanho pequeno com comprimento em torno de 1,6 a 1,8 cm para machos e em torno de 2 cm para fêmeas. Apresenta, geralmente, uma coloração marrom escuro no corpo, e na barriga uma cor mais bege. Possui uma faixa sobre os olhos que vai até a região do abdômen, uma mancha triangular na cabeça com o ápice direcionado para o nariz, além de uma listra no dorso e três nas coxas. Contudo, os indivíduos adultos se diferem dos jovens, cujo o dorso possui a coloração mais dourada e com duas listras paralelas pretas. As pernas são pretas com duas manchas douradas e os braços com tons mais acinzentados.

Dendropsophus bromeliaceus - Fotografia de Rodrigo B. Ferreira


A descoberta de uma nova espécie que tem hábitos de vida totalmente diferentes das demais espécies que dividem o gênero Dendropsophus traz à tona a importância das investigações científicas para preencher as lacunas de conhecimento sobre os seres vivos. Com mais dados reunidos é possível que decisões mais acertadas sobre manejo e conservação de espécies e habitats sejam tomadas, trazendo mais chances de persistência para os organismos estando ou não em risco de extinção.


Baixe o PDF do artigo de descrição da espécie:



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