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O 1º Congresso Brasileiro de Crocodilianos (1º CBCroc) teve como tema “A pluralidade científica em nome da conservação”, evidenciando as diversas frentes de pesquisa, conservação e educação em prol da preservação dos crocodilianos do Brasil e da América do Sul. O Instituto Marcos Daniel (IMD), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Comissão Organizadora, junto a outras 22 entidades, uniram-se na organização do congresso, que ocorreu nos dias 14 e 15 de agosto de 2021, no formato online e gratuito.
Preenchendo as lacunas
O resgate histórico deste processo se faz oportuno para evidenciar a força do coletivo e valorizar a importância da pluralidade entre atores diversos em prol de protagonizar e concretizar iniciativas, partindo de pontos convergentes.
Durante o 9º Congresso Brasileiro de Herpetologia (CBH) realizado em Campinas/SP, ocorreu no auditório da Unicamp, no dia 23/07/2019, uma reunião de pesquisadores especialistas em crocodilianos presentes no evento, que contou com 32 participantes de 19 instituições.
Sendo o CBH o principal evento acadêmico para alunos, professores, grupos de pesquisas consolidados e emergentes, foi entregue uma carta ao presidente da Sociedade Brasileira de Herpetologia (documento publicado nos anais do evento), ressaltando a importância de oportunizar e estimular discussões que contemplem toda a diversidade da herpetologia brasileira, que na ocasião, a programação do congresso não havia comtemplado a temática crocodilianos.
O documento teve como objetivo dar mais visibilidade e representação do grupo de crocodilianos nos próximos eventos da SBH e explicitar a necessidade de discussões voltadas à conservação dos crocodilianos no Brasil. A reunião foi conduzida por Luis Basseti (Vice Chair Brazil, IUCN-SSC Crocodile Specialist Group), Yhuri Nóbrega (Projeto Caiman do Instituto Marcos Daniel – IMD), Jozelia Correia (UFRPE) e Thiago Portelinha (UFT).
O 9º CBH foi um “divisor de águas” demonstrando claramente a necessidade de diálogo e de um espaço exclusivo, onde grupos de pesquisadores, estudantes e profissionais que atuam com os crocodilianos no Brasil pudessem interagir.
Em seguida, no ano de 2020, um grupo formado pelos pesquisadores que conduziram a Carta para SBH (2018) e outros especialistas de jacarés no Brasil montaram um grupo de whatsApp “Workshop Brasileiro” para discutirem a realização de um evento presencial, com proposta de ser sediado no Espirito Santo, visando sanar a lacuna de integração entre os diversos atores envolvidos com a temática conservação de crocodilianos e discutir a viabilidade de fomentar a criação de uma rede de pessoas e instituições.
Em virtude da pandemia Covid-19 e de outros acontecimentos, o evento não ocorreu. Nesta perspectiva, aparece o 1º CBCroc como mais um espaço de discussão sobre a importância da união entre os pesquisadores, buscando uma maneira mais integrada de se trabalhar com jacarés sobre diferentes ópticas e realidades.
Somando esforços
O evento contou com a presença de grandes pesquisadores na área, que atuam em variadas frentes, trazendo novas informações, perspectivas, história, legislação, estado da arte e panoramas gerais sobre a conservação dos crocodilianos. Esta interação gerou um ambiente positivo de discussão e troca de ideias durante os dois dias.
Ao todo, o evento contou com 22 entidades participantes do congresso, 2 entidades organizadoras e 20 apoiadoras, somando 28 palestrantes de quatro países diferentes. Dentre as organizadoras, estiveram presentes o Instituto Marcos Daniel (IMD), capitaneada pela Comissão Organizadora do Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) por meio do Laboratório Interdisciplinar de Anfíbios e Répteis (LIAR - UFRPE)
Como apoio, o congresso contou com a ArcelorMittal, GEAS Brasil, Instituto Últimos Refúgios (UR), ICMBio - MMA, Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH), Associação Brasileira de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB), Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), Ecocaiman, Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (ABRAVAS), Hospital Silvestres, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Instituto BW, Prefeitura Municipal de Vitória, Centro Universitário FAESA, Instituto Jacaré, Universidade Federal de Minas Gerais - ECMVS, Museu de História Natural do Sul do Estado do Espírito Santo (MUSES), Crocodylia Brasil e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
A ciência no "novo normal"
No contexto da pandemia, a manutenção de ambientes de discussão sobre as problemáticas em torno das espécies viventes tornou-se limitadas, devido à impossibilidade de reuniões presenciais e do desenvolvimento de atividades práticas pelo fechamento de instituições em função das medidas sanitárias.
Toda esta problemática traz à tona a necessidade emergente de ampliar e difundir debates sobre temáticas como, conservação e integração da ciência, focando principalmente na grande perda que a biodiversidade vem sofrendo nos últimos anos.
Partindo desse pressuposto, as equipes do Projeto Caiman e do LIAR organizaram-se para produzir um evento nacional com o objetivo de abranger a problemática dos jacarés, trazendo à tona visões pontuais e holísticas sobre a realidade de cada região brasileira e as espécies dentro de cada contexto.
Além disso, em consonância com a temática do evento, a equipe organizadora decidiu por lançar os livros de Educação Ambiental e o Tratado de Crocodilianos do Brasil produzidos pelo Projeto Caiman nos últimos anos, encorpando uma maior bagagem e qualidade no conteúdo disponibilizado no congresso.
Novos livros disponíveis
No total, 4 livros foram lançados durante o evento: O Tratado de Crocodilianos do Brasil, a obra mais completa de literatura sobre jacarés da América Latina, feita por meio de uma ação colaborativa com a participação significativa de 69 pesquisadores, reunindo informações básicas, técnicas, teóricas e práticas em diversas áreas de interesse (X seções temáticas e 24 capítulos); e três livros de literatura infantil bilíngues (português e inglês), que de forma lúdica narram o dia-a-dia de um jacaré-de-papo-amarelo em três partes: “Um dia na vida de um jacaré”, “A família do jacaré” e “Não é fácil ser jacaré”. Todas as versões estão disponíveis no site do IMD, gratuitamente.
Metodologia utilizada durante o evento
O evento aconteceu entre os dias 14 e 15 de agosto de 2021, sendo feito totalmente online e transmitido pela plataforma do YouTube. Embora o IMD e a UFRPE já sejam instituições consagradas em organizações de eventos desse porte, as restrições impostas pela pandemia de Covid-19 elucidaram a necessidade de remodelação para que o evento atingisse o máximo de pessoas possível, com qualidade de transmissão e conteúdo.
Dessa forma, a proposta reuniu pesquisadores palestrantes em uma reunião pela plataforma GoogleMeet (fig-1) e com o auxílio do OBS Studio Ver26.1.1 (OBS). Foi feita a conexão entre a plataforma do YouTube e a reunião do GoogleMeet por captura da tela do computador host.
Com o OBS foi possível organizar toda logística de apresentação, como transição de imagens, vídeos gravados antecipadamente, efeitos como cronômetros que separam uma palestra da outra, equalizar o som da chamada, dentre outras funcionalidades relacionadas às transmissões. Esse programa é um dos mais utilizados nas plataformas de streaming pela internet.
Toda a arquitetura de divulgação do evento foi disponibilizada pelo site do IMD (Fig-3), hospedado na plataforma Wix. Esta ferramenta consiste em uma plataforma online de criação e edição de sites, que permite aos usuários criar sites em HTML5 e sites Mobile sem necessidade de conhecimento prévio em programação ou design, sendo todo conteúdo produzido pelos projetos de conservação do IMD são hospedados e disponibilizados
Com isso, através do trabalho da organização, foi possível criar um domíno do evento, em que as pessoas pudessem se cadastrar e se informar sobre as datas e a programação do evento.
Resultados da união de várias mãos
De acordo com o registro do site na plataforma Wix, o congresso obteve 1130 cadastros de congressistas. Os resultados mostram que pessoas de 23 países (Fig-5) se cadastraram para o 1º CBCroc, sendo que 1045 inscritos foram brasileiros, contemplando todos os estados, com exceção de Roraima (Fig-6). Dentro dos estados brasileiros observou-se uma maior representatividade da região sudeste.
Dentre os estados, São Paulo (22%), Pernambuco (16%) e Espírito Santo (11%) foram os que tiveram o maior número de inscritos. Nota-se uma maior quantidade de inscrito nos estados “sede” do evento, Espírito Santo e Pernambuco. Eventos científicos presencias tendem ter um público mais regionalizado, principalmente pelo custo do deslocamento.
Sendo um evento online, podemos relacionar a grande quantidade de inscritos destes estados com a divulgação online que tende alcançar pessoas próximas geograficamente e outro fator a ser levado em conta é a presença dos projetos de conservação: Projeto Caiman/IMD (ES) e Projeto Jacaré/LIAR/UFRPE (PE). Este dado pode ser um indício do aumento de interesse dos estudantes locais devido a constante Educação Ambiental e divulgação feita por estes projetos.
Em relação à faixa etária dos participantes, observamos uma predominância do público mais jovem, com mais de 50% dos participantes com idades entre 18 e 28 anos de idade (Fig-7). Possivelmente essa faixa etária mais predominante no evento é composta por estudantes de graduação, que, pela facilidade do evento ser online e a gratuidade da inscrição, puderam participar.
As redes sociais também se mostraram bem efetivas no alcance das pessoas. De acordo com o analytics do Instagram do Projeto Caiman, as publicações sobre o evento chegaram em aproximadamente 10 mil pessoas, observando os insights das publicações e triando os seguidores em mais de uma postagem.
É importante levar em consideração que praticamente todos os parceiros do evento também fizeram divulgações em suas redes sociais, logo podemos extrapolar o raciocínio que esses números de alcance podem estar extremamente subestimados, haja visto que perfis como o da ABRAVAS e GEAS Brasil no Instagram possuem uma capilaridade muito maior que a do Projeto Caiman em termos de alcance pelo número de seguidores.
No YouTube, durante a transmissão, o congresso obteve cerca de 3 mil pessoas acompanhando o evento, com o pico de 250 pessoas simultâneas, em média, durante os dois dias de evento.
Bons frutos à serem colhidos
O 1º CBCroc foi um marco na história da conservação e estudo dos crocodilianos brasileiros. O grande alcance do evento e sucesso de inscritos, mostraram o interesse pelo assunto por não especialistas, em geral por estudantes de graduação.
Este público deve ser considerado alvo em eventos como este. Em geral, reuniões científicas conseguem captar de forma fácil especialistas e pessoas que já trabalham com o escopo do evento, o grande diferencial é alcançar o público geral e o 1º CBCroc logrou êxito neste quesito, evidenciado pela massa jovem inscrita.
Outro dado importante que o congresso nos trouxe é o poder potencializador do alcance por meio de projetos de conservação que divulgam ciência onde atuam.
No atual contexto da pandemia e a consequente transformação das interações sociais, a construção de um evento deste porte, evidenciou a necessidade de profissionalização em plataformas virtuais para divulgação e exibição.
Mesmo com a permissão para eventos presencias no futuro, o entendimento dessas plataformas para construção de um evento híbrido, com palestras presencias e transmissão virtual, poderá ser a chave para alcançar e agregar maior importância em eventos futuros.
A finalização do 1º CBCroc representa também o início de um ciclo, com novos desafios e conquistas. Dessa forma, nós da Comissão Organizadora, que ainda estamos transbordando de orgulho em participar da criação do congresso, também estamos gratos pelo pujante abraço de todos os colaboradores, que de forma ética e comprometida tornou o evento grandioso.
Gostaríamos por meio deste documento, agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a construção do congresso, e nos colocar à disposição para dar continuidade neste trabalho, tornando-o um evento de tradição anual para a celebração destes animais.
O Projeto Caiman é uma realização:
- Instituto Marcos Daniel; @imdbrasil
- Projeto Caiman; @projetocaiman
Parceira:
- Instituto Últimos Refúgios; @ultimosrefugios
Apoio:
- Prefeitura de Vitória; @vitoriaonline
- VipRede; @vip.rede
Texto:
- Fernando Paulino; @inando.bio
- Gabriel Dias; @gabrieldias.bio
- Jozélia Correa; @correiajozelia - Paulo Braga; @paulobraga.bio
- Ednilza dos Santos; @ednilza_oxe - Rafael Barboza; @rafasabarboza
Ilustração:
- Fernando Paulino; @inando.bio
Patrocínio:
- ArcelorMittal Tubarão; @arcelormittaltubarao
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